quarta-feira, 30 de setembro de 2009

POÉTICAS EXPERIMENTAIS
Faz este mês 26 anos que conheci os poetas históricos do movimento da poesia experimental.
Em 1983 o António Barros, o Silvestre Pestana e eu, apresentámos intervenções poéticas na Alternativa 3 – III Festival Internacional de Arte Viva, organizado pelo Egídio Álvaro, o que na altura resultava em algo de novo do ponto de vista poético: intervenções realizadas por poetas que não eram declamações nem leituras, mas a apropriação da linguagem da performance para apresentar uma poética onde o corpo também tinha algo a “dizer”.
Desse encontro, e depois de uma conversa sobre o que (não) estava a acontecer com a poesia experimental, eu e o Silvestre Pestana achámos que se devia fazer o ponto da situação editando um caderno onde cada poeta experimental apresentasse os pressupostos teóricos daquilo que andava a fazer e, ao mesmo tempo, que perspectivasse o que iria fazer no futuro, ou que caminhos é que achava que iria tomar a poética de cariz mais experimentalista, considerando que pensávamos serem urgentes soluções mais criativas e a utilização de outros suportes para que a poesia pudesse evoluir e expressar-se através de linguagens mais contemporâneas.
Por uma questão prática (O Silvestre vivia no Porto, enquanto eu e a maior parte dos poetas morávamos em Lisboa), fiquei encarregue de contactar e de apresentar pessoalmente a cada poeta esse nosso projecto. O que para mim foi uma tarefa que me encheu – posso dizê-lo sem preconceitos – de uma alegria enorme. Conhecer finalmente os poetas que eu mais lia, que tinha pesquisado enquanto estudante de Belas-Artes, e que eram dos escritores que mais admirava!
Devo acrescentar que naquela data já tinha feito 3 exposições individuais de poesia visual (desde a minha primeira exposição, em 1979 sempre utilizei este termo, enquanto praticamente todos os outros poetas se auto-denominavam poetas experimentais), mas nunca tínhamos cruzado caminhos. Recordo perfeitamente que na mesma altura em que esses poetas participavam na importantíssima PO.EX, na Galeria Nacional de Arte Moderna de Lisboa, em Belém (1980), eu tinha a minha segunda exposição no Teatro Aberto, também em Lisboa.
E durante o mês de Setembro de 1983 cumpri a “espinhosa” missão de apresentar o projecto que mais tarde viria a resultar num livro. Em minha casa ou em casa dos próprios, fui conhecendo sucessivamente E. M. de Melo e Castro, Ana Hatherly, Salette Tavares, Alberto Pimenta, José-Alberto Marques e o António Aragão, que talvez tivesse conhecido mais tarde, considerando que vivia na Madeira, e já não me recordo se esteve em Lisboa nessa altura.
Graças ao entusiasmo com que todos reagiram à proposta e à dinâmica que então se criou, o pequeno caderno que tínhamos previsto organizar, rapidamente se transformou em algo mais volumoso, com 270 páginas, que depois de algumas peripécias acabou por se intitular “POEMOGRAFIAS – Perspectivas de Poesia Visual Portuguesa”, editado pela Ulmeiro, depois de um intenso trabalho de paginação. (a partir da edição desse livro, em Janeiro de 1985, generalizou-se a designação “poesia visual”, que passou a ser posteriormente utilizada por todos os poetas experimentais e não só).
Desenhei a capa do livro com base num poema de computador do Silvestre Pestana (que tinha criado os primeiros computer-poems em 1981/83 num “Spectrum”). E se agora parece uma coisa quase banal, em 1985 foi realmente “diferente” apresentar uma antologia de poesia e de teoria poética com uma obra “gerada” por computador na capa. (Como não tínhamos acesso a impressora – nem sei se havia naquela altura alguma associada ao Spectrum – fomos a uma loja de electrodomésticos e pedimos para ligar o “computador” a uma televisão, e ali mesmo fiz várias fotografias de um dos poemas, das quais resultou a capa de “POEMOGRAFIAS”.
O livro, que para além dos textos teóricos e das biografias dos autores incluiu inúmeros poemas visuais e fotografias de instalações poéticas, performances, videopoemas, fotopoesia, electrografias, poemas experimentais e projectos de poemas a concretizar no futuro (o meu poema “Imponder(h)abilidade – Projecto para simulador de anti-gravidade ou performance a realizar na lua”, de 1983 ainda não se realizou…), teve a colaboração de Abílio-José Santos, Alberto Pimenta, Ana Hatherly, Antero de Alda, António Aragão, António Barros, E. M. de Melo e Castro, Fernando Aguiar, José-Alberto Marques, Salette Tavares, Silvestre Pestana, e ainda a participação do crítico Egídio Álvaro e do músico Jorge Lima Barreto, porque já nessa altura considerávamos que as artes não deviam ser estanques e que a poesia podia ser potencializada através da interacção com outras artes…
Fernando Aguiar, "Imponder(h)abilidade", 1983

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

VIDEOS DE ARTESERIES
O Ciclo de Performances em Faro intitulado ARTESERIES, organizado pela Associação D’Artistas Plásticos do Algarve, no qual participámos (Bruno Vilão, Gonçalo Mattos, o grupo Mandrágora e eu), teve lugar no dia 9 de Maio.
Na altura não foi possível incluir aqui a gravação da minha intervenção, mas agora, com mais calma, seleccionei 2 dos 6 videos produzidos pelo Bruno Vilão com base nessa intervenção perfopoética, e aqui vão eles.
Achei que poderia ser interessante apresentá-los aqui porque nestes 2 anos de “O Contrário do Tempo” tenho apresentado dezenas de fotos das minhas leituras, mas tirando as pessoas que assistiram às mesmas, as restantes não fazem ideia de como é que isto “funciona ao vivo”.
Espero que não se decepcionem…
Video 1
Video 2

sábado, 19 de setembro de 2009

EL ARTE DE LA PERFORMANCE
EL ARTE DE LA PERFORMANCE – Elementos de Creación é o título do livro que Bartolomé Ferrando publicou recentemente, pelas Ediciones Mahali, de Valencia.
Bartolomé Ferrando é professor titular de performance e arte intermédia na Faculdade de Bellas Artes de Valencia, e um dos mais destacados poetas visuais e performers contemporâneos, tendo participado em inúmeros Festivais de Poesia e de Performance em variadíssimos países.
O livro reúne 10 textos sobre os diversos aspectos relacionados com a arte da performance, sobre o espaço, o tempo, o corpo, a reapresentação, a ideia, a componente sonora, o contexto, etc., numa linguagem directa e concisa, não perdendo a perspectiva histórica e contextualizando este tipo de arte com os movimentos que a precederam como o futurismo, o dadaísmo, a body-art, happening, Gutai, Zaj e o movimento Fluxus.
Este importante livro para quem se interessa pela temática, termina com uma pequena antologia de fotografia de várias performances de Joel Hübaut, Lee Wen, Artur Tajber, Elvira Santamaria, Esther Ferrer, Julien Blaine, Seiji Shimoda, Richard Martel, Giovanni Fontana, Boris Nieslony (foto da capa), Alastair MacLennan, Roi Vaara, ou Monika Günther & Ruedi Schill, incluindo uma fotografia da performance que realizei em Tokyo, durante o NIPAF’97 – The 4th Nippon International Performance Art Festival.
Fernando Aguiar, "Vocal & Visual Sonnets", Metropolitan Art Space, Tokyo, 1997

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

CONFRARIA
A revista CONFRARIA, editado pelo colectivo Confraria do Vento que durante cinco anos foi apenas editada digitalmente, vai ter a sua primeira edição em papel, e o lançamento da mesma é realizado hoje, no Centro Cultural Banco do Brasil, no Rio de Janeiro.
Com redacção no Brasil, mas com um painel de editores luso-brasileiros (Márcio-André, Victor Paes, Ronaldo Ferrito, João Miguel Henriques, Anderson Fonseca e Marcos Pache), esta edição tem vários colaboradores internacionais, mas privilegiando igualmente os autores brasileiros e portugueses.
Como ainda não tenho um exemplar da revista, não conheço o seu conteúdo. No entanto, os nomes avançados prometem fazer desta revista um objecto de leitura criativa e de grande qualidade: Gonçalo M. Tavares, valter hugo mãe, Arnaldo Antunes, Fernando Aguiar, Maria do Rosário Pedreira, E. M. de Melo e Castro, Octavio Paz, Ortega y Grasset…

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

MONTES CLAROS (S)EM PALAVRAS
No dia 5 de Setembro inaugurou no Centro Cultural Malaposta a minha exposição “MONTES CLAROS (S)EM PALAVRAS”, que ficará patente ao público até 27 de Setembro.
No pequeno texto do catálogo escrevi o seguinte: “A exposição é constituída por um conjunto de fotografias que são uma selecção dos cerca de 120 estabelecimentos comerciais fotografados no centro de Montes Claros, no Brasil, durante a minha participação no XIX Salão Nacional de Poesia - Psiu Poético, que se realizou em 2005 nesta cidade do interior mineiro.
O intenso movimento do dia-a-dia não permitia perceber o “design” exterior das lojas, sobretudo porque de portas abertas e com os produtos a acumularem-se muitas vezes junto às paredes, tornava-se imperceptível a saturação de palavras e de frases curtas, como a designação das lojas, marcas comerciais, serviços prestados, etc., com uma estética tão característica que só mais tarde, num domingo e no feriado que se lhe seguiu, consegui descobrir.
Nesses dois dias, com o comércio encerrado e as ruas desertas, pude então constatar e registar fotograficamente a profusão desta “escrita” e de uma certa desordem (ou de uma ordem de certo modo desordenada) na organização do “lettering” que se acumulava nas paredes, nas portas, nos portões de metal e no espaço envolvente, repletos de palavras, de onde emergia uma curiosa visualidade poética que afinal estava de acordo com aqueles dias inteiramente dedicados à poesia, e que a cidade já se habituara a viver…”
O Centro Cultural Malaposta fica na Rua de Angola em Olival Basto, e a exposição está patente ao público de segunda a sábado das 11.00 às 23.00 horas, e aos domingos das 14.00 às 19.00 horas.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

DOC(K)S
O número de 2009 da revista DOC(K)S é dedicado à Ásia. Fundada por Julien Blaine, que em 1981/82 dedicou um número desta publicação aos poetas e artistas plásticos chineses “Non-Officiels”, numa altura em que estes eram absolutamente marginalizados e até perseguidos pelas autoridades chinesas, eis que os actuais directores da revista, Philippe Castellin e Jean Torregrosa, consagraram o presente volume de 432 páginas à Ásia, abrangendo assim outros países orientais, aproveitando a abertura que as artes asiáticas estão a ter nos respectivos países, bem como a divulgação e a aceitação que a arte chinesa está a ter no ocidente na última meia dúzia de anos.
Apesar da maior parte dos colaboradores ser de origem oriental (Japão, Coreia, China, Taiwan, Tailândia, Singapura, Filipinas, Macau e Hong-Kong), participam igualmente artistas europeus, australianos, americanos e canadianos, que realizaram obras na Ásia ou que têm alguma relação com a arte que se pratica nestes países.
É o caso de Demosthénes Agrafiotis, Fernando Aguiar (participei em Festivais na China, Hong-Kong, Coreia e em Macau), Julien Blaine, Anne-James Chaton, Bartolomé Ferrando, Jozsef R. Juhasz, Michele Metail, Edith Azam, Esther Ferrer, Giovanni Fontana, Jean Claude Ganon, Lorenzo Menoud, Pierre André Arcand, Richard Martel ou Serge Pey.
Dos participantes asiáticos, podem-se destacar Apisuk Chupon, Iwan Wijono, Ma Desheng, Mideo M. Cruz, Keichi Nakamura, Riosuke Cohen, Shigeru Matsui, Tanabe Shin, Shoashiro Takahashi, Ko Siu Lan e Ji Yu. Com duas importantes ausências, conforme já salientou Julien Blaine: o japonês Seiji Shimoda (curiosamente, fazendo parte do comité de redacção internacional da DOC(K)S), e o coreano Hong O-Bong, dois amigos de longa data.
A revista é acompanhada por um DVD que regista 28 performances de alguns dos participantes já referidos e ainda de Lee Wen, Lu Lynn, Morgan O’Hara, Francis O’Shaugnessy e Wen Peng.
Deste número, o mínimo que se pode dizer, é que é mais um excelente trabalho (mais voltado para a performance), na linha dos números anteriores (que privilegiam, de uma maneira geral, a poesia visual) do grupo Akenaton (Castellin e Torregrosa).
Com o preço de capa a 50 €, a DOC(K)S pode ser solicitada através do seguinte e-mail: akenaton_docks@sitec.fr
Fernando Aguiar, "Two Performance Sonnets", Beijing Tokyo Art Projects, Pequim, 2005