quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

POEMAS + OU - HISTÓ(É)RICOS
Já que estamos em maré de efemérides, aproveito para terminar o ano com mais uma: em 2009 fez 35 anos que publiquei o (meu primeiro) livro, “POEMAS + OU – HISTÓ(É)RICOS”, uma edição de autor feita aos 18 anos e paga com os meus primeiros ordenados. Na altura trabalhava numa agência de publicidade e, meses depois, comecei a dar aulas numa escola em Lisboa. Nesse tempo o dinheiro chegava para tudo…
São poemas de adolescência, pré-experimentalistas, bastante influenciados pelo surrealismo que estava a estudar nas Belas-Artes e do qual gostava bastante, a par das primeiras experiências de poesia visual.
Desse livro não há muito a dizer: tem 26 poemas, 64 páginas, a capa é desenhada por mim e, apesar de tudo, há um dos poemas que ainda digo com alguma frequência nas minhas performances mais “poéticas”: “O Tal Dedo”. Que vai reproduzido em baixo, junto a outros dois, para dar um cheirinho daquilo que são os “POEMAS + OU - HISTÓ(É)RICOS”…
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“O TAL DEDO”
o acto de metermos o dedo no nariz
pode ser simultâneo e coincidente
como aconteceu agora ao suicidarmos
os dois o tal dedo.
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“UM PÊLO NA GARGANTA”
ela
mostrou-me
um
pêlo
que
lhe
tinha
crescido
dentro
da
garganta
e
eu
sofregamente
mordi-o
e
cortei-o
com
os
dentes.
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“O CICLO DA PEDRA”
uma pedra rola deitada
numa cama.
em seguida rola por baixo dela
e novamente
torna a rolar-lhe
por cima.
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quer acreditem ou não
é isto o ciclo da pedra.

domingo, 27 de dezembro de 2009

POESI AV ISUAL
Depois da exposição em Madrid, do livro publicado em S. Paulo e de outro livro editado também em Madrid, dá para terminar o ano com uma efeméride: Faz 30 anos que realizei a minha primeira exposição individual.
Foi na galeria da Escola Superior de Belas-Artes, de 7 (estava quase a fazer 23 anos) a 21 de Maio de 1979, e apresentei 47 poemas visuais criados entre 1972 e 1978, conforme a lista que está em baixo.
Muitos poemas, sobretudo os primeiros, foram bastante influenciados pela obra do António Aragão, o primeiro poeta experimental que descobri e cujo trabalho me fascinou ao ponto de aos 16 anos começar a criar também poemas “visuais”. Porque na realidade comecei logo a utilizar imagens nos meus poemas, coisa que ainda não era habitual entre os poetas experimentais em meados dos anos 70.
Expor 47 trabalhos nessa altura foi uma verdadeira aventura, e apresentei a minha primeira (pequena) instalação intitulada “Socorro”, que pertence agora ao Museu de Serralves, e que era parte de um projecto mais ambicioso que nunca chegou a ser realizado. (A maqueta desse projecto pertence também ao Museu).
Fez parte da exposição aquele que é o meu trabalho mais divulgado: “Dois Dedos de Conversa”. Para além do livro “O DEDO”, já foi publicado mais de 40 vezes em revistas, catálogos e em antologias de 16 países, e foi capa das revistas “Poetry Halifax Dartmouth” (Canadá), “Axle” (Austrália) e do jornal cultural “Garatuja” (Brasil).
Em 1999 incluí a maior parte destes poemas no livro “OS OLHOS QUE O NOSSO OLHAR NÃO VÊ”, depois de serem apresentados na exposição “PO.EX: O EXPERIMENTALISMO ENTRE 1964 E 1984”, em Novembro desse ano, no Museu de Serralves.
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"A Espoleta do Último Nada", 1972
"A Cor da Cortiça", 1977
"Ensaio para uma Nova Expressão da Escrita", 1978
"Paz na Terra", 1978
"Dois dedos de Conversa", 1978

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

TUDO POR TUDO
Posso dizer que este ano termina em beleza do ponto de vista artístico: nesta última semana foi publicado o livro “TUDO POR TUDO” no Brasil, inaugurou a exposição “EN LOS OJOS DE LA POÉTICA”, em Madrid, no mesmo dia em que foi lançado o livro “IMAGINANDO LA POÉTICA”, com alguns dos trabalhos expostos e outros inéditos.
Mais tarde falarei da exposição e do livro de Madrid (e também da leitura durante a inauguração), mas por enquanto fiquemos no “TUDO POR TUDO”.
O convite partiu do poeta e agitador cultural Floriano Martins que dirige a colecção “Ponte Velha” da editora Escrituras de S. Paulo, colecção fundada por António Osório e por Carlos Nejar, um simpatiquíssimo poeta que conheci em Bento Gonçalves, no Rio Grande do Sul, em 1996. A colecção tem por objectivo divulgar escritores portugueses no Brasil, conta com o apoio da Direcção-Geral do Livro e das Bibliotecas, e já publicou obras de Ana Hatherly, Nicolau Saião, Maria Estela Guedes, Pedro Tamen, Casimiro de Brito, João Barrento, Luís Carlos Patraquim, Luiz Pacheco, Nuno Júdice, Dalila Teles Veras, Rosa Alice Branco, António Teixeira e Castro, António Ramos Rosa e Luiza Neto Jorge, entre outros.
A sugestão do Floriano é que o livro incluísse poesia verbo-experimental, poesia visual, uma entrevista e pequenos textos de outros autores sobre o meu trabalho, ao que eu acrescentei fotografias de instalações, livro-objecto, performance, escultura e fotopoesia, o que permite uma visão mais alargada daquilo que tenho feito.
A entrevista foi realizada pelo Wilmar Silva e a “fortuna crítica” é de autoria de Luís Fagundes Duarte, Paulo Cheida Sans, Natacha Narciso, J. Seafree, Alberto Pimenta, J. Medeiros, Augusto Corvacho, Carlos Mendes de Sousa e Eunice Ribeiro.
O livro tem 176 páginas, a quase totalidade dos poemas verbo-experimentais são inéditos, enquanto que muitos dos visuais já foram publicados em catálogos e em revistas. Curiosamente, e isto porque foram organizados em alturas diferentes, os poemas visuais deste livro, da exposição em Madrid e do livro com os trabalhos da exposição, pertencem à mesma série, embora nos três casos existam obras diferentes e inéditas.
Para contactos: escrituras@escrituras.com.br
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CONTRADICÇÕES
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se retraço / se refaço / se prossigo e mais não digo /
se repasso e não trespasso / se redigo e não consigo /
se me engraço e no compasso / ameaço e lá religo /
porque o faço ?/ porque traço?/
porque maço ?/ porque sigo ?
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se espero e desespero / se não quero e me redimo /
se não esmero / pois não quero / se fero, firo e afirmo /
se refiro e não confiro / largo, tiro e animo /
porque opero ?/ que tolero ?/
porque gero ?/ o que estimo ?
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se ocupo e não me culpo / se desculpo e não consinto /
se exulto e em vão oculto / se permuto e não me minto /
se não esqueço e enlouqueço / se mereço o labirinto /
porque expresso ?/ porque acesso?/
se regresso e lá repinto ?
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se envolvo e não resolvo / se promovo e mal não passo /
se osculo e sim discorro / se ocorre e não me escasso /
se parece e transparece / se na prece não me enlaço /
quem esquece ?/ que acontece ?/
porque aquece ?/ que desfaço ?
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se acorro e lá percorro / se do pranto faço encanto/
se aprovo e não recorro / e o recanto é sacrossanto /
se escorro e subo o morro / adianto e entretanto /
porque incorro ?/ porque morro ?/
se socorro e faço tanto ?

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

TRIPLO V
Não tenho o hábito de falar aqui de outros sites ou blogs, mesmo quando incluem colaboração ou trabalhos meus, que é afinal o objectivo de O CONTRÁRIO DO TEMPO: ser uma espécie de “semanário” daquilo que vou fazendo por aqui e ali.
No entanto a Maria Estela Guedes (agora com a inestimável colaboração do Floriano Martins nesta nova série da Revista TIPLO V) tem feito uma louvável divulgação de inúmeros escritores, pintores e não só, com colaborações que primam pela qualidade.
Sempre admirei a persistência e o empenhamento da Estela com o desgastante esforço que é manter uma revista digital como o TRIPLO V, com interessantíssimas matérias que vão desde as artes às religiões, passando pelas ciências.
Neste terceiro número da nova série colaboro com alguns visuais aos quais a Maria Estela Guedes chamou de “Diamantes”. Título adequado, até porque esses poemas foram realizados em Diamantina, uma cidade no interior de Minas Gerais, durante o Festival de Inverno da U.F.M.G., em 2006.
Como esses visuais são pouco conhecidos, deixo o endereço que leva directamente à “minha página”. Depois, a partir dela, podem descobrir todo o restante TRIPLO V: http://revista.triplov.com/numero_03/Fernando_Aguiar/index.html
Fernando Aguiar, "Calligraphy", 2006

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

SONORITÉS
O Festival “SONORITÉS #5 – DU TEXTE AU SON”, realizou-se em Montpellier entre os dias 6 e 9 de Outubro em vários espaços desta tranquila e bonita cidade do sul de França: Centre Chorégraphique National, École Supérieure des Beaux Arts, Théâtre Universitaire Paul Valéry, Catedral Carré Sainte Anne e na galeria Kawenga - Territoires Numériques, onde participei num debate sobre “La Fragilisation dês lieux expérimentaux”, com poetas e músicos de diversos países e coordenadores de espaços culturais franceses.
Conforme o título do Festival indica, todas as intervenções estiveram relacionadas com os diferentes tipos de sonoridades, interpretadas por músicos e por poetas que actuaram nos espaços acima referidos, consoante o tipo de trabalho apresentado.
Assim, tivemos Steve Reich, Bernard Heidsieck, o grupo Les Impromptus, Fernando Aguiar, Bérangère Maximin, Gwenaëlle Stubbe, o trio Kernel, Rhodi Davies, Cyrille Martinez, Isabelle Duthoit, Jean-Pierre Verheggen, Jaap Blonk e a japonesa Tenko, entre outros.
SONORITÉS é um Festival anual realizado por uma pequena mas eficiente equipa de músicos, poetas e pintores, liderada por Anne-James Chaton.
Jaap Blonk
Tenko
Isabelle Duthoit
Fernando Aguiar

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

POESIA ELETRÔNICA

Jorge Luiz António escreveu aquele que será durante muito tempo a obra de referência da poesia digital – “POESIA ELETRÔNICA – negociações com os processos digitais”.
É a pesquisa mais exaustiva e completa que conheço, escrita em língua portuguesa, referente à poética realizada por meios tecnológicos desde as primeiras experiências de poesia informática do alemão Theo Lutz em 1959 até aos hipertextos mais recentes, passando por toda uma série de experiências, directa ou indirectamente realizadas e produzidas através de meios digitais. Este livro é O livro !
A obra impressa aborda questões como Poesia e Tecnologia, Poesia, Arte e Ciência, Poesia e Computadores e elabora uma tipologia dos diversos géneros poéticos abrangidos por esta temática.
A complementar as 200 páginas do livro está um CD-Rom que contém cerca de 500 páginas que desenvolvem dois dos capítulos do livro, denominações da poesia eletrônica, antologia de textos teóricos, uma antologia de poemas verbais, visuais e digitais, uma completíssima cronologia da poesia eletrônica com a reprodução de vários documentos que se referem ou contêm poesia digital, um glossário e 111 páginas de referências bibliográficas que representam, no conjunto (livro + CD-Rom) um completíssimo trabalho de investigação.
Ao longo de toda a obra o nome de E. M. de Melo e Castro é uma referência constante (é dele, aliás, o texto de introdução e o poema da contracapa do livro), sendo quase todos os poetas experimentais portugueses referidos com alguma frequência. A antologia “Poemografias – Perspectivas da poesia Visual Portuguesa” é referida algumas vezes e têm poemas no CD-Rom Fernando Aguiar, António Aragão, José de Assunção, Pedro Barbosa, E. M. de Melo e Castro, António Gedeão, Eurico Gonçalves, Ana Hatherly, Constança Lucas, Ângela Marques, Fernando Pessoa, Silvestre Pestana, Manuel Portela, Jorge M. Martins Rosa, Mário de Sá-Carneiro, André Sier, Francisco Soares e Rui Torres.
Quem quiser notícias mais actualizadas pode aceder a http://jlantonio.blog.uol.com.br/