quarta-feira, 29 de dezembro de 2010


POEMOGRAFIAS
PERSPECTIVAS DA POESIA VISUAL PORTUGUESA

Já aqui falei, a 30 de Setembro do ano passado, do meu encontro com o Silvestre Pestana, e de como surgiu a ideia de fazermos um ponto da situação sobre as poéticas experimentais, da qual resultou o livro “POEMOGRAFIAS – Perspectivas da Poesia Visual Portuguesa”.

Volto agora ao assunto, por fazer em 2010, 25 anos sobre a edição desta antologia que continua actual e que tem sido objecto de estudo em diversas universidades não apenas em Portugal, mas também no Brasil e, pelo menos, na Universidade de Florença.

Os dois últimos parágrafos dessa postagem diziam o seguinte: “Desenhei a capa do livro com base num poema de computador do Silvestre Pestana (que tinha criado os primeiros computer-poems em 1981/83 num “Spectrum”). E se agora parece uma coisa quase banal, em 1985 foi realmente “diferente” apresentar uma antologia de poesia e de teoria poética com uma obra “gerada” por computador na capa. (Como não tínhamos acesso a impressora – nem sei se havia naquela altura alguma associada ao Spectrum – fomos a uma loja de electrodomésticos e pedimos para ligar o “computador” a uma televisão, e ali mesmo fiz várias fotografias de um dos poemas, das quais resultou a capa de “POEMOGRAFIAS”.

“O livro, que para além dos textos teóricos e das biografias dos autores incluiu inúmeros poemas visuais e fotografias de instalações poéticas, performances, videopoemas, fotopoesia, electrografias, poemas experimentais e projectos de poemas a concretizar no futuro (o meu poema “Imponder(h)abilidade – Projecto para simulador de anti-gravidade ou performance a realizar na lua”, de 1983 ainda não se realizou…), teve a colaboração de Abílio-José Santos, Alberto Pimenta, Ana Hatherly, Antero de Alda, António Aragão, António Barros, E. M. de Melo e Castro, Fernando Aguiar, José-Alberto Marques, Salette Tavares, Silvestre Pestana, e ainda a participação do crítico Egídio Álvaro e do músico Jorge Lima Barreto, porque já nessa altura considerávamos que as artes não deviam ser estanques e que a poesia podia ser potencializada através da interacção com outras artes…”

Do que ainda não falei foi do lançamento do livro, apresentado na Sociedade Nacional de Belas-Artes, em Lisboa, no dia 8 de Fevereiro de 1986, durante o qual se realizaram as leituras e as performances de Alberto Pimenta, José-Alberto Marques, E. M. de Melo e Castro e de Antero de Alda. Na sala onde se realizou o lançamento (1ºandar da S.N.B.A.) esteve uma exposição retrospectiva do que foi até essa altura o projecto POEMOGRAFIAS, com fotografias das exposições realizadas, recortes publicados pela imprensa, nacional e alguma estrangeira e outros documentos.

Dois dias depois, o Diário Popular publicava um artigo de Júlio Pinto, onde dizia que “Instituições como a Sociedade Nacional e Belas-Artes deviam ser poupadas a cenas daquelas: um conhecido agitador a exemplificar as relações entre vanguarda e não vanguarda, através de excrementos humanos. O agitador dá pelo nome de Alberto Pimenta e invadiu o espaço sagrado das artes belas e nacionais”…”descerrou duas lápides, a propósito das relações entre vanguarda e “rectaguarda”. A primeira expunha uma pequena porção de fezes, com a inscrição “Homenagem da Rectaguarda à Vanguarda”. A segunda consagrava uma “Homenagem da Vanguarda à Rectaguarda” e dava a ver outras fezes com outro formato. Uma questão de forma, pois.”

Referindo-se aos 11 poetas incluídos na antologia, Júlio Pinto escreve: “O leitor verificará que se trata de um “onze” substancialmente diferente do apurado para o México. Talvez por isso, a leitura de “POEMOGRAFIAS” é eventualmente chocante, não aconselhável a consumidores de “best-sellers” e salsichas enlatadas.”

O lançamento de POEMOGRAFIAS teve uma forte presença de público, entre os quais se encontravam bastantes escritores e artistas plásticos.



E. M. de Melo e Castro

Antero de Alda

José-Alberto Marques

José-Alberto Marques

 Alberto Pimenta

Alberto Pimenta, "Homenagem da Rectaguarda à Vanguarda"

Exposição documental sobre o projecto Poemografias


quinta-feira, 23 de dezembro de 2010


PERFORM’ARTE
I  ENCONTRO NACIONAL
DE PERFORMANCE

Não quero terminar o ano sem assinalar o 25º Aniversário da realização de PERFORM’ARTE – I ENCONTRO NACIONAL DE PERFORMANCE, que ocorreu de 13 a 28 de Abril de 1985, nos Claustros do Convento da Graça, na Galeria Nova, na Galeria Municipal e no Salão dos Bombeiros Voluntários, em Torres Vedras.

Na sequência das Alternativas - Festivais Internacionais de Arte Viva, organizados pelo crítico sediado em Paris Egídio Álvaro, realizadas entre 1981 e 1985, primeiro em Almada e a última em Cascais, eu e o Manoel Barbosa decidimos avançar com a organização de um Encontro que reunisse todos os performers portugueses activos nessa altura, na qual tivemos o apoio da Cooperativa de Comunicação e Cultura de Torres Vedras, através do professor (e meu ex-colega na E.S.B.A.L. Aurelindo Ceia), autor do magnífico cartaz e do catálogo do Encontro. E devo dizer que em 1985, uma estrutura independente editar um catálogo de 84 páginas, impresso num bom papel e com um design profissional, era extremamente complicado, ainda que para isso a C.C.C.T.V. tivesse conseguido o apoio da Fundação Calouste Gulbenkian.

Mas a nossa preocupação não foi apenas a de organizar um Encontro de performers, com toda a difícil logística por falta de meios, mas o de dar uma visão mais alargada do que tinha sido a performance em Portugal até esse momento, assim como o de apresentar artistas que apesar de não serem performers, criavam obras em áreas afins.

E a par da apresentação de performances durante 3 dias, foi feita uma exposição bibliográfica com fotografias, recortes de imprensa, e toda a espécie de documentos produzidos pelos artistas participantes, e uma exposição foto-documental de homenagem a José Conduto, isto na Galeria Nova, onde o Manoel Barbosa apresentou também uma conferência sobre esta temática.

Na Galeria Municipal foram expostas obras de Alberto Carneiro, Albuquerque Mendes, Fernando Aguiar, Gerardo Burmester, Helena Almeida, Joana Rosa, Manuel Casimiro, Silvestre Pestana, e exibiram-se vídeos de António Barros, António Palolo, Ção Pestana, Grupo VideOporto, Manoel Barbosa, Rui Castelo Lopes, Rui Órfão, Silvestre Pestana e de Vitor Rua.

Para além de objecto estético e de conter os textos de apresentação dos organizadores, o catálogo inseriu uma componente mais teórica com o meu texto “Performance: a Intervenção Viva”, e uma “Cronologia Essencial”, de 1961 a 1985, de Manoel Barbosa, onde pela primeira vez se apresentou uma recolha mais ou menos exaustiva das apresentações no campo performático em Portugal. Isto para além das biografias, das fotografias de performances e de alguns textos dos restantes participantes.

Segundo o programa que editámos na altura (e a esta distância não garanto que não tenha havido alguma alteração) no dia 26 de Abril apresentaram os seus trabalhos Albuquerque Mendes, António Barros, António Melo, Grupoartitude 01 (António Barros, Rui Orfão, Isabel Carlos, Isabel Pinto, João Torres e José Louro), Ção Pestana, Gerardo Burmester e Rui Órfão, no dia 27 de Abril Armando Azevedo, Elisabete Mileu, Manoel Barbosa, Telectu, Pedro Tudela e Silvestre Pestana e, no dia 28 de Abril, António Olaio, Ícaro, Carlos Gordilho, Fernando Aguiar, Joana Rosa, Miguel Yeco e D. W. Art.

É claro que cada um destes dias merecia uma postagem independente, até para poder incluir fotografias das performances de todos os participantes, mas por falta de tempo isso ficará para uma outra oportunidade.

Devo no entanto referir que, ao contrário de agora acontece, em que a imprensa dispensa apenas uma ínfima parte da sua atenção às iniciativas culturais e, ainda assim, apenas a alguns (sempre os mesmos) nomes e espaços culturais, em 1985 conseguimos uma ampla cobertura da imprensa, com inúmeros artigos, a maior parte dos quais com fotografias, com muitos jornais a referirem-se a PERFORM’ARTE mais do que uma vez e a dedicarem-nos páginas inteiras. Refiro os principais: Diário de Notícias, O Dia, Primeiro de Janeiro, O Globo, TV Guia, Badaladas, Jornal de Notícias, Correio da Manhã, Jornal de Letras, Artes e Ideias, Êxito, A Capital, O Diário, O Jornal, Grande Reportagem, Comércio do Porto, Se7e, Diário Popular, Tempo e o Diário de Lisboa.


António Olaio

 Elisabete Mileu

Gerardo Burmester

 Miguel Yeco

 Manoel Barbosa + Telectu

Carlos Gordilho

António Melo

Silvestre Pestana

domingo, 19 de dezembro de 2010


FRANTICHAM’S
ASSEMBLING BOX 8

Francis Van Maele editou mais um número da sua já emblemática FRANTICHAM’S – ASSEMBLING BOX, que neste momento será das mais importantes revistas de artista internacionais, pela regularidade dos números já editados, pelo nome dos participantes mas, principalmente, pela qualidade das obras incluídas.

A temática é o movimento Fluxus e a poesia visual entendida num âmbito alargado, mas o tema é apenas o ponto de partida para cada um dar largas à imaginação.

E o resultado vai surpreendendo a cada edição. Os 23 colaboradores de cada número enviam 40 múltiplos com um carácter original, numerados e assinados, o Francis coloca-os numa caixa feita artesanalmente com a tampa serigrafada por si próprio e, depois de distribuídos pelos autores e organizador, ficam apenas 15 exemplares para serem vendidos a 75 € cada.

Este número 8 tem a participação de Demosthenes Agrafiotis, Fernando Aguiar, Hartmut Andryczuk, Vittore Baroni, John M. Bennett, J. M. Calleja, György Galántai, António Goméz, Klaus Groh, Richard Kostelanetz, Serse Luigetti, Emílio Morandi, Pete Spence e Francis Van Maele, entre outros.



Fernando Aguiar, "Consecução ou o Efeito", 2010

terça-feira, 14 de dezembro de 2010



VISUELLE POESIE AUS PORTUGAL


No final dos anos 80 recebi do Prof. Karl Riha, da Universidade de Siegen, o convite para publicar um livro com poemas visuais meus na prestigiosa (pelo menos para os poetas visuais de todo mundo) colecção “experimentelle texte” que, na altura, editava obras de relevantes poetas internacionais (Klaus Peter Dencker, Pierre Garnier, Valeri Schestjanoi, Rea Nikonova/Serge Segay, Uwe Warnke, Hartmut Andryczuk, Hansjörg Zauner, Ernst Jandl…).

Como na altura andava mais entusiasmado com a organização e a divulgação da Poesia Experimental Portuguesa (tinha organizado nos anos anteriores o 1º Festival Internacional de Poesia Viva (1987), o número da revista francesa “DOC(K)S” dedicada a Portugal (1987), a exposição e o catálogo/antologia “MAPPE DELL’IMAGINARIO, em Itália, a exposição e o catálogo “POESIA: OUTRAS ESCRITAS, NOVOS SUPORTES”, no Museu de Setúbal (1988), a exposição e o catálogo “CONCRETA. EXPERIMENTAL. VISUAL – Poesia Portuguesa 1959-1989, com o Gabriel Rui Silva, em Bolonha, (1989), a revista norte-americana “SCORE” Nº 10, dedicada a Portugal (1989), e a série de textos e de poemas visuais publicados em 6 números da revista “ENCONTRO”, suplemento do “Jornal de Notícias”, também em 1989, para além de outras exposições e Performances, no Atelier 15, em Lisboa, na Casa de Serralves, no Porto, na Galeria Municipal da Amadora, tudo isto entre 1987 e 1989), propus editar, em vez de um livro meu, uma antologia de Poesia Visual Portuguesa, que acabou por ser publicada já em 1990, o que perfaz agora 20 anos sobre a sua publicação.

Mais tarde receberia um novo convite de Karl Riha (que, em conjunto com o Prof. Siegfried J. Schmidt foram os impulsionadores da colecção) e, em 1994, foi editado pela “experimentelle texte” o meu livro “MINIMAL POEMS”.
Voltando a “VISUELLE POESIE AUS PORTUGAL”, título da antologia, integrou um texto introdutório de minha autoria, publicado em português, inglês e em alemão, e obras de César Figueiredo, Armando Macatrão, Ana Hatherly, Emerenciano, Salette Tavares, Fernando Aguiar, José-Alberto Marques, Antero de Alda, António Barros, Abílio-José Santos, Alberto Pimenta, Rui Zink, António Aragão, António Dantas e António Nelos.

Após a reforma do Prof. Karl Riha, a Universidade alemã de Siegen, resolveu não dar continuidade à colecção e os livros editados esgotaram-se rapidamente. Há uns anos contactei a Universidade para me venderem exemplares dos meus dois livros, mas a resposta foi que há muito que ambos estavam esgotados (penso que as edições eram de apenas 300 exemplares…)


António Aragão, "Attention", 1984

Ana Hatherly, "Letter Full of Hope", 1975

José-Alberto Marques, "Ex-Escritas", 1983

Fernando Aguiar, "Variação sobre Ditongo", 1978

Abílio-José Santos, "Escrita"

 António Nelos, "De-vo-ta"

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010


 ENCONTRE INTERNACIONAL DE
PERFORMANCE I POESÍA FONÈTICA

A Homenagem ao poeta Miguel Hernández – Encontre Internacional de Performance i Poesía Fonènica – decorreu nos dias 19 e 20 de Novembro no Centre de Cultura Contemporània d’Elx L’Escorxador, em Elche, promovido pela Universitas Miguel Hernández.

L’Escorxador é um antigo matador transformado em Centro Cultural, com auditório, ateliers, salas de exposição, etc. e, pelos vistos, está a ser um (bom) hábito das autarquias castelhanas transformarem os matadores em espaços culturais, como aconteceu, por exemplo em Madrid, onde no ano passado também apresentei uma intervenção poética no Matadero Madrid que, actualmente, é um dos mais importantes locais da cultura vanguardista da capital espanhola.

Tive a oportunidade de encontrar neste Festival, organizado por Bartolomé Ferrando, amigos antigos e recentes, considerando que apenas não conhecia pessoalmente Montserrat Palacios e Josep Sou, poeta cuja obra visual admiro desde o final dos anos 80.

Os participantes foram Nelo Vilar, Esther Ferrer, Bartolomé Ferrando e Montserrat Palácios na sexta-feira e, no dia seguinte, Eduard Escoffet, Julien Blaine e Josep Sou, cabendo-me a mim encerrar o Encontro.

O Festival foi de alto nível, com um conjunto de muito boas intervenções estéticas, sonoras e fonéticas. De referir a excelência com que fomos tratados durante a nossa estadia em Elche, uma tranquila e simpática cidade com os jardins repletos de Palmeiras, a cerca de 20 km de Alicante. Aliás, quando cheguei, na quinta-feira à noite, a sensação que tive foi que o centro de Elche estava dentro de um imenso Palmeiral…


Esther Ferrer

 Josep Sou

 Mercedes Palacios

 Nelo Vilar

 Bartolomé Ferrando

 Eduard Escofet

 Fernando Aguiar

 Julien Blaine

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010


POESIA VISUAL:
É PRECISO MEXER COM A PALAVRA

Em Abril de 1985, eu e o Luiz Fagundes Duarte organizámos para o “Jornal de Letras, Artes e Ideias” Nº 145 um dossier sobre  poesia visual, que teve continuidade no número seguinte, com um texto do Silvestre Pestana sobre poesia informacional.

O dossier, para além do artigo de Luiz Fagundes Duarte “Para a história do futuro”, integrou os textos “Experimentalismo e investigação” de Ana Hatherly, “Electrografia e comunicação estética”, de António Aragão, o meu texto “A in(ter)venção poética”, e uma página inteira dedicada a poemas visuais de António Barros, Antero de Alda, José-Alberto Marques, Abílio-José Santos, E. M. de Melo e Castro, Silvestre Pestana e Fernando Aguiar.

Depois do suplemento Especial do “Jornal do Fundão”, organizado em 1965 por António Aragão e por E. M. de Melo e Castro, e deste dossier no “Jornal de Letras”, saído vinte anos depois, apenas em 1993 (1/10/93) foi publicado num jornal - “Gazeta das Caldas” - um suplemento dedicado à poesia experimental portuguesa. Se não contarmos com os artigos publicados na revista “Encontro”, que integrava ao fim de semana o “Jornal de Notícias”, e que em 1989 publicou durante seis números, textos e poemas sobre a experimentalidade poética em Portugal, também coordenados por mim.

Antero de Alda, "Repetições acentuadas / Poema sintomático III"

Abílio-José Santos, "Homenagem ao Polaco ateu e anticlerical desconhacido"

E. M. de Melo e Castro, "Projecto de silêncio"

José-Alberto Marques, "Geopoema"

Fernando Aguiar, "Ensaio para uma nova expressão da escrita Nº155"

Silvestre Pestana, (sem título)