CORTÉ LA NARANJA EN DOS
O poeta e
professor Fernando Reyes editou em Junho, na Cidade do México (Ediciones
Libera), uma pequena mas muito interessante antologia de poesia portuguesa, bilingue,
com traduções suas e dos tradutores convidados Tania Reyescartín, Angélica
Santa Olaya e Jesús Gómez Morán.
O título
desta antologia de 80 páginas – “Corté la Naranja en Dos – Antología de poesia
portuguesa contemporânea” foi inspirado num verso de Fernando Pessoa, tem uma
dedicatória ao poeta brasileiro Wilmar Silva, e integra poemas de Maria do
Rosário Pedreira, Ruy Ventura, João Rasteiro, Fernando Aguiar, Inês Lourenço,
Aurelino Costa, Pedro Ribeiro, Alexandre Nave, Filipa Leal, Américo Teixeira
Moreira, José Rui Teixeira e poemas visuais de Manuel Portela.
No texto introdutório,
Jesús Gómez Morán refere-se ao lado obscuro / ao lado taciturno e à noção de
ausência da cultura lusa em analogia com a cultura mexicana, que juntam, na
opinião do autor, “o sentimento de perda com o de um passado esplendoroso,
aparentemente irrecuperável, presentes na cultura do México e de Portugal”,
considerando mais à frente, “a característica mais relevante que posso destacar
desta nova empresa compiladora é a tensão estabelecida entre tradição e
inovação nos autores selecionados”.
Depois de
ter participado, em 1987 na antologia “SIGNOS CORROSIVOS – Selección de Textos
sobre Poesía visual, Concreta, Experimental y Alternativa, publicada pelas
Ediciones Factor (organizada por César Espinosa) e na “MEMORIA
DOCUMENTAL – II Bienal Internacional de Poesia Visual y Alternativa en México”,
organizada pelo Nucleo Post-Arte, esta é a minha terceira colaboração em antologías
publicadas na Cidade do México.
Um dos meus poemas incluídos neste "Corté la naranja en dos":
EL
EXCESO INEXEDIBLE
(:el amor que, además,
puede ser abominable)
Décio Pignatari
si
el amor puede ser abominable
el
dolor es una sensación adorable.
si
el excesso puede ser inexcedible
el
poco es una certeza algo increíble.
si
lo ostentoso puede ser exigible
el
reductor es ciertamente reprensible.
si
la tónica puede ser aconsejable
lo
inverso es casi sempre miserable.
si
la desnudez puede ser apetecible
el
universo es algo indecible.
si
la palabra es a veces imperceptible
lo que no se dice será sempre indescutible