

“PORTUGUESIA – Minas entre os povos da mesma língua / antropologia de uma poética”, é a contraantologia organizada pelo Wilmar Silva, lançada no dia 10 na Casa de Camilo Castelo Branco, em S. Miguel de Seide, Vila Nova de Famalicão, conforme referi anteriormente.
Esta obra de grande fôlego, reúne 485 poemas de 101 poetas de Portugal, Brasil (Minas Gerais), Guiné-Bissau e de Cabo Verde, com uma particularidade interessante: os poemas foram sequenciados sem uma ordem cronológica, alfabética ou por autor, não estando, sequer, assinados. Cada poema tem apenas uma letra, junto ao número da página que remete o leitor mais curioso para uma listagem de autores e que, pela letra e pelo número da página, conseguirá então identificar o autor do poema.
O estratagema criado pelo Wilmar Silva confere uma maior unidade aos poemas seleccionados e dá ao leitor a ideia de uma certa continuidade o que, nalguns casos, até se verifica.
Estas particularidades e a qualidade da maioria dos poemas fazem de PORTUGUESIA um trabalho de envergadura que o Wilmar vai desenvolver nos próximos anos, com poetas de outros estados brasileiros e de outros países de expressão portuguesa que não foram desta vez contemplados.
Há um outro aspecto a salientar. É que a somar ao volume de poemas recolhidos, PORTUGUESIA inclui um DVD com todos os poetas antologiados a lerem alguns dos seus poemas e, pelo que percebi, a maior parte nem sequer são os publicados. O DVD tem a duração de 2 horas, mas a alternância de poetas, os contextos onde estes lêem os seus poemas e os enquadramentos feitos pelo Wilmar Silva fazem com que esta sequência de vídeos nunca se torne maçadora ou cansativa. Na altura, o Wilmar também entrevistou os poetas, e esse registo ficará para uma posterior apresentação. Mas que o material recolhido pelo Wilmar é único e inestimável, disso não há dúvida…
Alguns nomes: Alécio Cunha, Ana Viana, António Ramos Rosa, Aroldo Pereira, Aurelino Costa, Babilak Bah, E. M. de Melo e Castro, Fernando Aguiar, Filipa Leal, Gonçalo M. Tavares, Guido Bilharinho, Iacyr Anderson de Freitas, João Miguel Henriques, João Rasteiro, Jorge Melícias, Jorge Reis-Sá, José Luis Peixoto, Luís Eustáquio Soares, Luís Serguilha, Márcio Almeida, Milton César Pontes, Nuno Rebocho, Pedro Mexia, Pedro Sena-Lino, Ronaldo Werneck, Rui Costa, Ruy Ventura, Tony Tcheca, valter hugo mãe, Wagner Moreira e o próprio Wilmar Silva.
Infelizmente o livro não está à venda em Portugal, pelo que para se conseguir um exemplar terá que ser contactada a própria editora: anomelivros@anomelivros.com.br
.
SONETO À CÃO
.
. Um cão levanta a perna direita e lança 4 esguichos para o tronco da árvore. . . A seguir levanta a perna esquerda e urina 4 vezes contra o candeeiro. . . Mais à frente alça de novo a perna e dispara 3 jactos no pneu do automóvel. . . Por fim, após cheirar desconfiado, agacha-se e mija as últimas 3 vezes numa poça de água.
.
Fernando Aguiar, "Soneto à cão"
No passado dia 2 o poeta José-Alberto Marques lançou o seu último livro “I’MAN”, na Galeria Valbom, que contou com a presença de um razoável número de escritores, artistas plásticos e amigos. A apresentação foi feita pelo poeta Liberto Cruz e pelo editor Rodrigues Vaz, ao que se seguiu uma leitura de poemas pelo autor. A antologia que reúne obras verbais, experimentais, visuais e diversas fotografias, pretende comemorar os 50 anos de actividade do poeta e, simultaneamente, da publicação do poema “Solidão”, em 1958, na “revista dos finalistas do Colégio Andrade Corvo”, em Torres Novas. O livro conta também com as colaborações de E. M. e Melo e Castro, Virgil Mihaiu, Fernando Aguiar, Manuel da Costa Leite, Richard Martel, Xosé Lois Garcia, Ana Hatherly, Ramiro Correia, Giancarlo Cavallo, Urbano Tavares Rodrigues, Emerenciano, Rui Pacheco e António Castilho, com textos, mensagens, ilustração e fotografias. Em relação ao meu texto, terminei dizendo o seguinte: “Acho que o José-Alberto prefere saborear o agridoce das palavras, de as baralhar para descobrir dentro de um saco cheio de letras e sílabas as palavras que precisa para construir os seus poemas e romances. Sei que gosta de as degustar lentamente, sentir-lhes o cheiro, o ruído, a textura e a cor antes de as ordenar e de as alinhar (ou não), para resultarem na prosa ou no poema. Mas para mim, foi na poesia experimental que este autor conseguiu levar mais longe a sua criatividade e capacidade de inovar, de elevar – através dos jogos espaciais com que os poetas da experimentalidade gostam de trabalhar – as palavras ao expoente que faz delas uma obra de arte.” Neste momento e até ao dia 12, José-Alberto Marques estará no Brasil a participar na quinta edição do “BELÔ POÉTICO – ENCONTRO NACIONAL DE POESIA”, em Belo Horizonte. Eu tive o prazer de participar na edição do ano passado, pelo que envio daqui um abraço aos organizadores do evento Virgilene Araújo e Rogério Salgado, assim como a todos os poetas participantes, entre os quais se encontram vários amigos meus.
I’ MAN
Y EXPERIMENTAL EN VENEZUELA