POEMOGRAFIAS
PERSPECTIVAS DA POESIA VISUAL PORTUGUESA
Já aqui falei, a 30 de Setembro do ano passado, do meu encontro com o Silvestre Pestana, e de como surgiu a ideia de fazermos um ponto da situação sobre as poéticas experimentais, da qual resultou o livro “POEMOGRAFIAS – Perspectivas da Poesia Visual Portuguesa”.
Volto agora ao assunto, por fazer em 2010, 25 anos sobre a edição desta antologia que continua actual e que tem sido objecto de estudo em diversas universidades não apenas em Portugal, mas também no Brasil e, pelo menos, na Universidade de Florença.
Os dois últimos parágrafos dessa postagem diziam o seguinte: “Desenhei a capa do livro com base num poema de computador do Silvestre Pestana (que tinha criado os primeiros computer-poems em 1981/83 num “Spectrum”). E se agora parece uma coisa quase banal, em 1985 foi realmente “diferente” apresentar uma antologia de poesia e de teoria poética com uma obra “gerada” por computador na capa. (Como não tínhamos acesso a impressora – nem sei se havia naquela altura alguma associada ao Spectrum – fomos a uma loja de electrodomésticos e pedimos para ligar o “computador” a uma televisão, e ali mesmo fiz várias fotografias de um dos poemas, das quais resultou a capa de “POEMOGRAFIAS”.
“O livro, que para além dos textos teóricos e das biografias dos autores incluiu inúmeros poemas visuais e fotografias de instalações poéticas, performances, videopoemas, fotopoesia, electrografias, poemas experimentais e projectos de poemas a concretizar no futuro (o meu poema “Imponder(h)abilidade – Projecto para simulador de anti-gravidade ou performance a realizar na lua”, de 1983 ainda não se realizou…), teve a colaboração de Abílio-José Santos, Alberto Pimenta, Ana Hatherly, Antero de Alda, António Aragão, António Barros, E. M. de Melo e Castro, Fernando Aguiar, José-Alberto Marques, Salette Tavares, Silvestre Pestana, e ainda a participação do crítico Egídio Álvaro e do músico Jorge Lima Barreto, porque já nessa altura considerávamos que as artes não deviam ser estanques e que a poesia podia ser potencializada através da interacção com outras artes…”
Do que ainda não falei foi do lançamento do livro, apresentado na Sociedade Nacional de Belas-Artes, em Lisboa, no dia 8 de Fevereiro de 1986, durante o qual se realizaram as leituras e as performances de Alberto Pimenta, José-Alberto Marques, E. M. de Melo e Castro e de Antero de Alda. Na sala onde se realizou o lançamento (1ºandar da S.N.B.A.) esteve uma exposição retrospectiva do que foi até essa altura o projecto POEMOGRAFIAS, com fotografias das exposições realizadas, recortes publicados pela imprensa, nacional e alguma estrangeira e outros documentos.
Dois dias depois, o Diário Popular publicava um artigo de Júlio Pinto, onde dizia que “Instituições como a Sociedade Nacional e Belas-Artes deviam ser poupadas a cenas daquelas: um conhecido agitador a exemplificar as relações entre vanguarda e não vanguarda, através de excrementos humanos. O agitador dá pelo nome de Alberto Pimenta e invadiu o espaço sagrado das artes belas e nacionais”…”descerrou duas lápides, a propósito das relações entre vanguarda e “rectaguarda”. A primeira expunha uma pequena porção de fezes, com a inscrição “Homenagem da Rectaguarda à Vanguarda”. A segunda consagrava uma “Homenagem da Vanguarda à Rectaguarda” e dava a ver outras fezes com outro formato. Uma questão de forma, pois.”
Referindo-se aos 11 poetas incluídos na antologia, Júlio Pinto escreve: “O leitor verificará que se trata de um “onze” substancialmente diferente do apurado para o México. Talvez por isso, a leitura de “POEMOGRAFIAS” é eventualmente chocante, não aconselhável a consumidores de “best-sellers” e salsichas enlatadas.”
O lançamento de POEMOGRAFIAS teve uma forte presença de público, entre os quais se encontravam bastantes escritores e artistas plásticos.
E. M. de Melo e Castro
Antero de Alda
José-Alberto Marques
José-Alberto Marques
Alberto Pimenta
Alberto Pimenta, "Homenagem da Rectaguarda à Vanguarda"
Exposição documental sobre o projecto Poemografias
3 comentários:
que o natal - já passado - tenha sido cheio de poesia e o novo ano ,que se aproxima ,pleno de palavras prontas a moldar.......
felicidades e
.
um beijo
Como o tempo passa — eu era uma 'criança' na altura ;)
Há algum tempo que não tenho notícias do magnífico ALBERTO PIMENTA.
Um abraço.
"A primeira expunha uma pequena porção de fezes, com a inscrição “Homenagem da Rectaguarda à Vanguarda”. A segunda consagrava uma “Homenagem da Vanguarda à Rectaguarda” e dava a ver outras fezes com outro formato. Uma questão de forma, pois.”
tem como conseguir exemplar do livro aqui no brasil? abraço, dioli
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